Alfredo era um homem comum, mas sua vida era cheia de perguntas sem fim. Sentia dores no peito sem razão, cansaço ao acordar, falta de vontade de viver… Mas sempre que alguém lhe perguntava como ele estava, Alfredo respondia com um motivo.
— É porque sou médium e estou absorvendo energia ruim.
— É porque meu pai nunca me reconheceu.
— É porque sou um espírito muito antigo, carregado de missões.
— É porque sou TDAH, acho. Ou autista. Não sei, mas vi no TikTok que tem a ver comigo.
Alfredo tinha uma Caixa dos Porquês. Cada vez que sentia algo difícil, abria a tampa da caixa e puxava um _novo rótulo, um novo diagnóstico, uma nova explicação. Ele colecionava justificativas como quem coleciona medalhas 🥇 .
E assim seguia… com alívio momentâneo, mas sem cura.
Um dia, sonhou com uma mulher vestida de branco, sentada numa pedra, com olhos de quem já tinha chorado todos os choros e ainda assim sorria.
Ela olhou para ele e disse:
— Alfredo, você é bom em explicar sua dor, mas nunca a sentiu de verdade.
— Como assim? — perguntou ele.
— Você correu tanto para dar nomes, que nunca se sentou para perguntar o que ela queria te mostrar. Você não é suas explicações. Você é o silêncio que existe por baixo de todas elas.
— Mas o que eu faço então?
— Simples: fecha a caixa. E sente. Fica. Escuta. Chora. Pergunta para o seu coração o que ele precisa — não o que o mundo diz que você tem.
É no vazio da resposta que a alma começa a falar.
Na manhã seguinte, Alfredo acordou diferente. Não melhor. Mas disposto a não fugir.
Reflexão
Estamos vivendo uma era em que todo mundo quer explicação, mas poucos querem transformação.
É como se, ao encontrar um rótulo ou uma justificativa (espiritual, médica, psicológica), a pessoa sentisse alívio:
_“ah, então é por isso que eu sou assim!”_
Mas o problema é que isso não cura. *Isso só organiza a dor num lugar cômodo*.
A alma não quer uma explicação — ela quer libertação.
_E isso exige olhar com coragem, atravessar a dor, soltar as narrativas, sentir sem defesa._
enquanto houver desculpa, não há cura.
_Desire lahe_.
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