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O Jardim de Clara

Clara era uma mulher comum: trabalhava, cuidava da casa, sonhava com uma vida mais leve. Mas ultimamente se sentia exausta. Tudo doía — não só o corpo, mas também os vínculos.

Ela estava brigada com a irmã, magoada com o marido, irritada com o filho, e se sentia invisível no trabalho.
— "Será que todo mundo só pensa em si?", pensava.

Num sábado à tarde, foi ao quintal plantar umas ervas. A terra sempre acalmava seu coração.
Enquanto enterrava as sementes de hortelã, chorou.
— "Pai, por que tudo dói tanto? Por que o amor é tão difícil?"

Foi quando ouviu algo dentro dela, não como voz, mas como percepção:

Observe os seus impulsos, Clara. Eles não são maus — só estão feridos.

Sentiu um arrepio. E decidiu prestar atenção. A semana seguinte se tornou seu experimento.


🧲 Impulso de Ligação — em desequilíbrio

Na segunda, ela preparou o jantar para a família e ninguém agradeceu. Seu peito se fechou. 

Eu só queria ser notada. É pedir demais?” — pensou com raiva.

Mas lembrou do que ouvira no quintal.

O que havia por trás disso?

Era seu impulso de ligaçãoo desejo de ser vista, amada, acolhida.
Mas em vez de expressar com doçura, ela cobrava, manipulava com silêncio, e esperava que os outros adivinhassem.

Estou me machucando tentando forçar o que deveria fluir.

Decidiu tentar de outro jeito.

Na quarta, fez o jantar com alegria, deixou um bilhetinho fofo na mesa e… seguiu sua noite.
Ninguém comentou. Mas algo dentro dela ficou leve, livre.

Pela primeira vez, não cozinhou para ser amada.
Cozinhou porque estava em amor.


🛡️ Impulso de Rejeição — em desequilíbrio

Na sexta, sua irmã ligou. Queria conversar. Clara quase desligou na cara.

Ela só me procura quando precisa. Não sinto verdade.

Sentiu o impulso de afastar-se, defender-se.

Mas respirou.

Era seu impulso de rejeição.
Ele a protegia da dor — da velha dor de não ser prioridade.

Mas esse impulso virou dureza.
Ela havia se fechado não só para a irmã — mas para qualquer gesto que parecesse pouco.

Decidiu atender.
Ouviu. Pouco falou. Apenas escutou.
E algo mudou: a irmã não justificou, não mentiu. Disse apenas:

Sinto tua falta, mesmo não sabendo demonstrar.

Clara chorou em silêncio.

Rejeitar teria sido mais fácil. Amar era mais verdadeiro.


🌱 Epílogo

Na outra semana, ao regar as ervas, Clara sorriu.

Então é isso… O sofrimento nasce quando tento forçar ligação ou quando fecho em rejeição. Mas a paz nasce quando escolho o Amor acima do medo.

O jardim florescia. E ela também.


O surgimento dos dois impulsos:

No momento da criação, dois IMPULSOS BÁSICOS surgiram no ser... assegurando sua individualidade

Esses dois impulsos são:

  • LIGAÇÃO (atração, busca por prazer, desejo de união).

  • REJEIÇÃO (repulsa, defesa, busca por segurança).

➡️ Juntos, eles formam o que chamamos de EGO.

Esses impulsos são necessários para que cada ser possa:

  • Sobreviver,

  • Sentir-se separado (e assim evoluir conscientemente),

  • Escolher voltar à Fonte por amor, e não por imposição.


A tragédia não é castigo — é desvio

A miséria surge quando:

  • O impulso de ligação vira apego, possessividade, compulsão.

  • O impulso de rejeição vira ódio, julgamento, guerra.

➡️ A consciência se desconecta da Fonte e passa a criar dor.
➡️ E como o pensamento é criativo, ele gera experiências dolorosas.

Cristo compreende então que não é o Pai quem cria a dor.
É o ser, ao usar sua consciência de forma distorcida.


Reflexões:

🌱 Impulso de Ligação (desejo de conexão, reconhecimento, amor)

  1. Onde, na minha vida, estou tentando receber amor por meio da cobrança, do esforço ou da expectativa silenciosa?

  2. Estou oferecendo algo esperando retorno, mesmo que inconscientemente?

  3. Como seria fazer o mesmo gesto, mas por amor, e não por carência?

  4. O que em mim sente medo de não ser visto? E o que em mim já sabe que é inteiro mesmo sem aplauso?


🛡️ Impulso de Rejeição (defesa, afastamento, dureza)

  1. Com quem tenho erguido barreiras por dor antiga, mesmo que a situação atual já tenha mudado?

  2. Será que meu silêncio ou dureza são, na verdade, formas de proteção emocional?

  3. O que eu estaria querendo preservar em mim ao rejeitar o outro?

  4. Existe alguma relação em que seria mais libertador escutar do que vencer? Amar do que provar?


Integração consciente: do impulso à escolha amorosa

  1. O que o Amor faria neste exato momento, se estivesse no meu lugar?

  2. Que atitude me faria sentir leveza, mesmo que o outro não corresponda?

  3. Posso me permitir agir com amor e firmeza ao mesmo tempo? Como?

  4. Em que área da minha vida posso transformar tensão em ternura esta semana?


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