Numa casa no fim de uma rua qualquer, viviam dois seres que nunca se entendiam: o Gato e o Homem. O Gato era livre. Pulava telhados, gemia alto, provocava a noite com sua fome e seu cio. Amava o vento, a confusão, o instinto. Ninguém o segurava. Quando queria leite, miava; quando queria amor, arranhava. O Homem, por outro lado, vivia cansado. Vivia tentando manter a casa em ordem, o corpo em ordem, a mente em ordem. Mas não conseguia dormir. O Gato fazia barulho demais. Era sexo demais. Vontade demais. Vida demais. Todas as noites, o Homem jogava objetos contra o teto, tentava calar os gritos felinos. Não aguentava mais aquela criatura incontrolável. E o Gato, em troca, afiava as garras. Jurava que ia derrubar aquele Homem do trono. “Ele me reprime. Ele quer me domar. Ele quer silenciar minha natureza”, pensava. O conflito crescia. Até que um dia, uma telha caiu. Bem no centro da cabeça do Homem. Silêncio. Paz. O Gato andou pela casa como um rei vitorioso. Afinal, o dono havia morrido....
Ela não entendeu quando aconteceu. Foram meses de conversas, toques, promessas. Palavras ditas com calma, com fé. Até Deus tinha sido colocado ali no meio — como quem sela algo sagrado. E então, do nada… silêncio. Sem briga, sem explicação. Um apagar de luz. Como se nada tivesse existido. Ela procurou, perguntou, rezou. Queria entender. Por quê? Até que veio uma frase dessas prontas: "Deus tira da nossa vida quem não nos merece." E aquilo deu um alívio momentâneo. Porque culpar o outro é mais fácil do que olhar pra dor real. Mais fácil do que admitir que ela, de novo, ficou esperando alguém que foi embora. Mas com o tempo, começou a perceber… Talvez a pergunta não fosse por que ele saiu. Talvez a pergunta fosse: Por que ela ficou presa à ausência de alguém que não ficou? Ela viu que aquela saída repentina só escancarou uma dor antiga: o medo de ser deixada. o desejo desesperado de ser escolhida. o costume de se doar por inteiro por migalhas de atenção. A...